O papel do S&OP na logística da Black Friday

Poucas coisas são tão desafiadoras quanto preparar a operação logística de e-commerce para datas sazonais como a Black Friday. Não é apenas sobre entregar mais rápido ou ter estoque suficiente; é sobre orquestrar uma engrenagem complexa que envolve previsão de demanda, gestão de estoque, roteirização de entregas e, sobretudo, alinhamento entre todas as áreas, fatores que, em conjunto, ajudam a rentabilizar a operação. É aí que entra o S&OP (Sales & Operations Planning) como peça-chave para transformar o caos em estratégia.

Um planejamento robusto é o que garante custo controlado, nível de serviço elevado e a satisfação do cliente em momentos de pico, além de permitir escalabilidade, fazendo a operação crescer de forma sustentável sem perder eficiência.

Por que o S&OP é tão importante?

O S&OP conecta dois mundos que, se não conversarem, colocam tudo em risco: a previsão de vendas e a capacidade operacional. Em outras palavras, ele atua como elo entre o que marketing e comercial projetam vender e a capacidade real do supply chain, dos centros de distribuição e dos transportes. Ele garante o balanceamento entre oferta e demanda, assegurando que as metas comerciais sejam viáveis operacionalmente e que a operação em si possa sustentar o crescimento sem comprometer custos, prazos ou qualidade.

Esse processo vai muito além de planilhas. Ele envolve dados históricos, análise de tendências de mercado, cenários alternativos e, cada vez mais, tecnologias como Big Data, Data Mining e Business Intelligence, capazes de cruzar variáveis e prever com alta precisão quando e quanto será demandado em cada sazonalidade.

As etapas do planejamento

Para que tudo funcione dentro do planejado, o S&OP é dividido em seis grandes passos, que precisam estar muito bem amarrados. 

1 - Coleta de dados e previsão de demanda:

A primeira etapa consiste em reunir históricos de vendas, campanhas promocionais, lançamentos de produtos e sazonalidades. A partir daí, é possível transformar informações em previsões confiáveis.

2 - Revisão de demanda:

Logo depois, é preciso validar essas previsões com as áreas de marketing e comercial, ajustando os volumes esperados. Principalmente na Black Friday, qualquer desvio de informações pode significar ruptura ou excesso de estoque.

3 - Revisão de suprimentos e capacidade logística:

Aqui está um dos maiores gargalos: falta de estoque, espaço em CD, mão de obra, produtividade, nível de serviço, frota e transportadoras. Este é o momento de simular cenários e antecipar onde será necessário reforço e antecipação.

4 - Plano de reconciliação:

Nesta etapa, você vai confrontar a demanda com a capacidade e construir alternativas, seja aumentar estoque de segurança, negociar prazos de entregas ou até mesmo contratar operadores extras.

5 - Revisão executiva:

A decisão final precisa ser tomada em nível estratégico, com clareza sobre riscos, custos e prioridades. É onde se define o que é negociável e o que não é.

6 - Implementação e monitoramento:

O plano precisa ganhar vida e ser acompanhado de perto. Indicadores como OTIF, lead time, ocupação de CD e custos logísticos são os faróis que guiam os possíveis ajustes em tempo real, o que é extremamente importante em períodos de aumento de vendas.

Black Friday como laboratório para o ano todo

Planejar a Black Friday não é apenas preparar-se para um único dia ou mês de pico. É um exercício estratégico que mostra o quanto a operação está pronta para escalar. Quando bem estruturado, o S&OP não se esgota em novembro, ele se mantém como disciplina ao longo do ano, garantindo previsibilidade, eficiência e vantagem competitiva.

Afinal, se conseguimos alinhar áreas, prever demanda e executar com excelência em uma data que multiplica os volumes, também conseguimos aplicar a mesma disciplina em campanhas sazonais menores ou até no dia a dia.

Benefícios claros e mensuráveis

Um S&OP bem-feito antecipa picos e reduz rupturas, otimiza CDs e transportes, equilibra custos e nível de serviço e, o mais importante: coloca todas as áreas no mesmo compasso.

Mas na prática, os dados mostram que ainda há pontos a serem ajustados para que essa integração de áreas seja mais efetiva. Segundo o relatório State of Logistics 2025, 64% das empresas latino-americanas já usam otimização de rotas e 60% apostam em análise de dados. Mas apenas 30% no Brasil aplicam inteligência artificial em logística. Ou seja, ainda há um oceano de oportunidades para evoluir nesse processo.

Planejamento na prática

O S&OP é mais do que uma metodologia: é um mindset. Ele exige disciplina, colaboração e coragem para tomar decisões difíceis. Exige também enxergar tecnologia não como custo, mas como investimento que potencializa previsões, acelera decisões e dá mais confiança em cenários de incerteza.

A Black Friday nunca perdoa quem deixa para se preparar em cima da hora. Mas ela sempre recompensa quem tratou o planejamento como parte da rotina e não como exceção. E é justamente isso que torna o S&OP tão poderoso: quando bem aplicado, ele deixa de ser uma ferramenta de “sobrevivência em datas críticas” para se tornar o motor de uma logística estratégica, ágil e resiliente o ano inteiro.